domingo, 9 de setembro de 2012

A vida faz crescer e aceitar.



     


      Me deparo com um fenômeno comum, mas que de tão corriqueiro me deixa assustada; acuada. No meio de tanta gente, há uma multidão solitária. É contraditório, mas faz o maior sentido. Quanto mais há pessoas em minha volta, mais isso fica claro. Essa falta, essa lacuna. São pessoas atarefadas demais, pessoas que não estão em dia nem com elas mesmas.
      Parece que quanto mais se tem uma vida simples, mais feliz se pode ser.
      Fecho os olhos e consigo me imaginar parada, estática, no meio da rua. Enquanto olho para os lados, as pessoas como se em câmera lenta passam esbarrando em mim - no ombro direito, depois no esquerdo. Pessoas que não me veem. Pessoas que não veem elas mesmas.
      O celular em punho, o passo apressado; e eu ali. Parada. Esperando.
      Me vejo cercada de gente, mas ninguém se nota, ninguém conhece nada. Ninguém conhece ninguém. Lembro vagamente daquele "como você está?" que recebi há alguns dias - mais vago que a lacuna que persiste em latejar. Espero ser notada.
      A lembrança diária de algo que falta é outra contradição. É como lembrar de algo que se esqueceu; ou que foi esquecido. A lacuna. O espaço em branco.
      Nesse lugar de ninguém, lembro desse ponto de interrogação; vivo presa em uma angústia que me deixa cada vez mais sem ar. E, no meio disso tudo, lembramos que agora somos adultos.
      Todos viramos adultos, e com isso, nos obrigamos a aceitar as coisas do jeito que são. E lá naquela avenida movimentada na qual eu estava parada, eu pisco demoradamente, pego meu próprio celular e saio andando, esbarrando. Sendo adulta; sendo conformada. Sendo como querem que eu seja.
      Na minha cabeça, a lembrança da infância feliz e completa; no coração, o baque da realidade, a lacuna e o sentimento de falta.
      No meu rosto, a maquiagem de adulto.
      O passo apressado.