segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Meu tão amado inútil.






   Sempre me disseram que guardo muitas coisas inúteis em casa, muitas bugigangas. E não é mentira, eu guardo mesmo. Guardo papel de bala, papeizinhos, lápis quebrado, enfim... coisas que não possuem utilidade nenhuma, senão, ficarem guardadas. Desde pequena me desapegar dessas coisas sempre foi uma tarefa dificílima. Só eu sabia o quanto doía jogar tudo aquilo fora.
      Hoje ainda tenho esse costume, e ainda é difícil me desfazer das tais bugigangas, mas acredito que isso tudo tem um motivo. Lá na minha infância mora uma lembrança muito especial relacionada a minha afeição por esses objetos. Eu tinha por volta de oito anos de idade e estava toda arrumada para levar meu pai no aeroporto. Nunca gostei de ver meus parentes indo viajar, sempre me deu uma insegurança, um medo; afinal eles não estariam mais sob meus olhares, meus cuidados constantes. Foi pensando nisso que sentei em minha cama olhando tudo que tinha em meu quarto. Olhei em volta e parecia que nada era especial o suficiente, nenhum era o objeto perfeito. Me levantei e fui até uma caixinha na qual guardava as minhas maiores bugigangas. Só as mais inúteis.
      No meio de tantos papéis, botões de roupa, miçangas e pequenos pregos, achei o objeto a qual procurava sem saber. Um mini-chaveiro composto por uma cordinha e uma bolinha pendurada, com o desenho de um sapo. Havia ganho em uma revista que lia sempre, era um brinde! Abri um sorriso de orelha à orelha e guardei-o no bolso. Chegando no aeroporto, tirei de onde havia guardado o chaveirinho e entreguei-o ao meu pai, pedindo que ele levasse na viagem.
      Esse era o meio que eu tinha de me manter com meu pai. Sempre.
      E é isso que faço até hoje, guardo tudo que me dão que não tem valor nenhum, pois assim como eu, essas pessoas também sempre estarão comigo pelos presentes que me deram, que aparentemente não possuem nenhuma utilidade.
      Hoje vou presentear alguém com um recadinho. Escrito em letra fina, corrida; feito à tinta azul. Nele estará escrito um "Eu te amo". Como lembrança. Como proteção.

2 comentários:

  1. Estranho. Também tenho esse hábito. Até hoje guardo umas tralhas. Cada uma tem uma história, mas perdi o hábito de vê-las quando dá saudade. Elas estão tão bem guardadas, debaixo de umas caixas e pilhas de papel que dá até preguiça.

    Ah, o texto está muito bom. Simples, mas pontual. Bem sensível. Adorei! Bjos

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    1. Vinicius, muito obrigada pelo comentário!
      Sim, sempre tenho esse sentimento. É engraçado como essas coisas assim pequenas sempre tem uma lembrança gigante por trás!

      Mais uma vez obrigada! Beijos!

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